Monday, May 28, 2007

Corra!



Telefonema. Namorado. Desespero. Possibilidades. Pai. Correria. Flagra. Pedido. Negação. Correria. Atraso. Assalto. Tiro.
Corra Lola Corra é uma salada. Mas daquelas boas, com grande variedade de legumes, verduras e ainda molho especial. Abusando da utilização de diversas linguagens e técnicas do cinema contemporâneo, o filme de Tom Tykwer é pura adrenalina. Desde o começo, quando Manni (Moritz Bleibtreu) esquece no metrô uma sacola contendo cem mil marcos, a trama adquire um ritmo acelerado devido aos poucos vinte minutos que sua namorada Lola (Franka Potente) tem para tentar ajudá-lo a conseguir o dinheiro. Manni prestava serviços a um terrível criminoso e, certamente, seria apagado quando seu chefe soubesse do desaparecimento da grana. Animação quadro a quadro, captação de imagens com câmera caseira e colagem de fotos são apenas algumas das técnicas utilizadas pelo diretor-roteirista para deixar a trama ainda mais quente e interessante.
Telefonema. Namorado. Desespero. Possibilidades. Pai. Correria. Flagra. Pedido. Negação. Arma. Retorno. Cofre. Polícia. Correria. Grito. Atropelamento.
Apesar do roteiro não ser tão original, a forma com que ele é conduzido é que garante o brilhantismo do filme. São apresentadas excelentes versões para a mesma história, que dá ao vencedor do prêmio de Melhor Filme Estrangeiro, no Independent Spirit Awards, um caráter inovador e, obviamente, experimental. A trilha sonora, em que a protagonista participou e inclusive compôs algumas músicas, ajuda o filme a não perder velocidade. O som acelera e desacelera nos momentos certos.
Para os mais conservadores pode não agradar muito, mas para os pós-modernos é um prato cheio. Na época em que o filme foi lançado (Alemanha, 1998) chegaram inclusive a discutir se aquilo podia ou não ser considerado cinema, pois é diferente de tudo já feito nos estúdios hollywoodianos. Mas cá pra nós: até quando vão, erroneamente, alimentar a idéia de que apenas o cinema americano é de qualidade e deve ser seguido mundo afora? Até quando os EUA vão ditar as regras do jogo?
Porém, apesar de tudo isso, o ponto alto e a grande lição de toda a trama é fazer com que o espectador perceba que, como na vida real, pequenas atitudes e decisões que se toma ou se deixa de tomar podem levar a conseqüências e desenrolares completamente distintos. E como o tempo e as pessoas são capazes de alterar o destino de tudo.
Enfim, é um bom passatempo para aqueles que adoram se surpreender e assistir à quebra das narrativas clássicas propostas pelo cansativo cinema americano. Em Corra Lola Corra nada é convencional, nem mesmo os atores.
Telefonema. Namorado. Desespero. Possibilidades. Pai. Correria. Desencontro. Cassino. Dinheiro. Correria. Mendigo. Recuperação. Pagamento.
“O fim do jogo é o início do jogo”.