Friday, August 24, 2007

Entendendo Marilena Chauí e Adam Schaff

Uma das funções da história é o caráter documental que seus escritos trazem como forma de preservar a memória de um povo. A figura do historiador enquanto produto do meio social merece destaque, visto que não se trata de um ser em “branco”, mas sim de um humano com uma subjetividade nata. Assim, a verdade construída através de seu relato será sempre relativa. O próprio conhecimento adquirido ao longo dos anos pelos historiadores é capaz de modificar estudos posteriores, funcionando como uma espécie de filtro, em que novos dados podem ou não ser absorvidos. Esta influência, ou seja, a manifestação dessa objetividade ou subjetividade em maior e menor graus pode ser perceptível nas publicações através da análise de um discurso. Além disso, a linha ideológica de quem escreve também funciona como um desses componentes que agem no ato da criação.
Entretanto, de acordo com Adam Schaff, quanto mais o estudo é feito em coletivo, maior é a tendência a uma objetividade no conteúdo. Aparentemente, este um dos principais atenuantes da manifestação excessiva da subjetividade no texto.
Em virtude dos itens supracitados, é possível analisar a crítica de Marilena Chauí sob esse ângulo. O fato tomado por ela como ponto de partida é o tão discutido acidente com o avião da TAM, no último dia 17.
Primeiramente, observa-se a construção de uma realidade altamente arbitrária e precoce, em que o culpado apontado logo de imediato pela mídia é o governo. A própria linguagem utilizada pela imprensa exortar um subjetivismo explícito ao relatar o ocorrido. Nem mesmo hoje, quase um mês depois do acontecimento, se conhece as causas do acidente. Os “especialistas competentes”, termo utilizado pela autora para designar peritos em determinado assunto, levantaram apenas hipóteses que podem justificar a tragédia. A objetividade, nesse caso, ainda que relativa, mostrou-se tão utópica quanto a verdade absoluta.
Em vez de ocorrer a cobertura e apuração dos fatos da realidade, o que presenciamos hoje é a criação de uma nova realidade, excessivamente amparada por meios tecnológicos. Ora, pra quê ir até o local e conversar com testemunhas se eu posso simplesmente dar um telefonema e colher “todas” as informações por meio de fibras óticas? Agora impera a lei do menor esforço. Quanto menos trabalho eu tiver para obter as informações melhor. Não é assim que funciona agora?
Se poucos minutos após o acidente as causas ainda eram desconhecidas, qual o problema em dizer simplesmente que as causas eram desconhecidas? Que inquietação descabida e incontrolável é essa da mídia em ter sempre que apontar culpados e absolvidos na hora e no ato?
O que percebemos é que a imprensa, de um modo geral, não se contenta em apenas apresentar os fatos. Ela tem sempre que emitir um juízo moral e de valor, como se isso fosse acumular veracidade ao que é contado. A mídia é impaciente, não consegue esperar. Falta apuração. Falta informação. Falta, em especial, respeito.
A partir disso, um universo virtual e manipulador é criado e a mídia se vê cada vez mais soberana e onipotente em relação aos fatos. Cabe àqueles de olhos bem abertos levantarem a bandeira do discernimento e refutar a espetacularização dos fatos feita por quem desconhece a sua verdadeira função, que é a de informar.


Por Andressa Moreira a Gustavo Coura