Sunday, March 18, 2007

Contemple o seu horror!


David Nebreda nasceu em 1952 e mora ainda hoje na Espanha, porém, sua obra foi muito mais promovida na França. Aos 19 anos os médicos constataram sua esquizofrenia e já esteve internado inúmeras vezes em clínicas psiquiátricas. Vive em isolamento completo, inclusive do contato social e familiar. É licenciado em Belas Artes, mas seus conhecimentos sobre fotografia são totalmente autodidatas.
As reações das pessoas perante sua obra são extremas: ou rejeitam de forma taxativa ou admiram com encantamento absoluto. Criou uma infinidade de auto-retratos com excrementos do próprio corpo e também desenhos pintados com o próprio sangue. O castigo e a dor física são também por vontade própria.
Acredito que Nebreda utilize da filosofia da autodestruição para mostrar que o conceito de beleza e obra de arte adotado pela sociedade não procede. Obviamente, a própria moral vigente não permite que as pessoas saiam por aí se cortando, se queimando, se destruindo. A maioria dos seres humanos tem pavor de morte e dor. Mas o que me prova a não-loucura em Nebreda é justamente isso: a opção que ele fez pelo isolamento. Em sua casa não possui espelhos. Ele só conhece o estado em que seu corpo se encontra através de suas fotografias. Além de ser o objeto a ser fotografado Nebreda é o fruidor da própria arte.
É muito “fácil” escrever um poema que fale de morte, dor, feridas, sofrimento. O que me fascinou na obra de Nebreda é que ele vai além. Ele se propõe a sentir na pele todas as sensações que cada ação de auto-ferimento pode gerar. Ele não procura alívio, não se ilude com esperanças. Não nutre a idéia de conservação e cuidados com o corpo (matéria), pois sabe que um dia a morte vai chegar para finalizar seu processo de vida.
Alguns dizem que a obra de Nebreda apenas documenta as divagações de sua mente louca. Outros dizem que a documentação que ele faz é que serve para nós divagarmos. Mas isso importa?